O título vem carregado de bairrismo. Mas é que nós, abaetetubenses, natos ou adotivos, somos mesmo assim. Carregados de um orgulho que suplanta qualquer desaforo a esse pedaço de terra no coração do Baixo Tocantins. Gostaríamos de deixar bem claro a todo o mundo que não fomos nós, abaeteuaras, quem trancafiamos uma menor com vinte homens em uma cela de delegacia. Não seríamos capazes de manchar o nome sagrado de nosso lar. Não somos nós os responsáveis pela agressão estúpida ao meio-ambiente. Nunca submeteríamos nosso berço natal à melancolia de um futuro com céu carregado de nuvens tóxicas. Não somos nós os beneficiários da ganância putrefata das drogas. Nem desejaríamos a nossos filhos uma existência perdida. Não somos nós os piratas covardes que assombram os rios. Não planejaríamos tamanha desgraça aos irmãos ribeirinhos.
O que somos? somos cidadãos e cidadãs machucados, sim, pelo conjunto de maldades que infligem à nossa terra. Mas com a esperança de que um dia tudo vai passar. Mesmo com a internet e a TV ligada na novela das oito ainda poderemos sentar na porta de casa, misturando conversa fiada com o vento gostoso da noite. Teremos afastado de vez o perigo de presenciarmos um assalto na esquina. Nossos filhos menores poderão brincar, livres, nas ruas que já não estarão tão dominadas pelos milhares de mototáxis em alta velocidade, ávidos pelo próximo freguês. Nossos filhos mais velhos curtirão as baladas sem precisar se esquivar do assédio criminoso dos atravessadores do tráfico. Nossos irmãos ribeirinhos poderão cruzar os rios na hora que bem desejarem. Terão, enfim, a certeza de que as economias de toda uma vida, o motorzinho comprado com tanto sacrifício, a família... todos estarão a salvo.
O que somos? Somos senhores de nosso próprio destino. Que só aprendemos a engolir nossas próprias angústias. Haveremos de ser mais homens e mulheres dignos de ocupar esse solo. Haveremos de ser mais fortes. Haveremos de ser mais valentes.
ao dia 15 de agosto
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