Abaetetuba está mais uma vez no foco da imprensa. Pena que é de forma negativa. Leia essa notícia publicada no portal ORM agora pela manhã:
Será encerrada, na manhã desta segunda-feira (31), a fase de oitivas de testemunhas de acusação do caso da adolescente que ficou presa com homens no município de Abaetetuba. Os depoimentos estão sendo conduzidos pelo juiz Daniel Ribeiro Dacier Lobato, da 3ª Vara Criminal do município. Ao todo 90 testemunhas figuram no processo, sendo que este é o 15º depoimento.
O último depoimento de testemunha de acusação será da juíza Clarice Maria Andrade. Como o processo corre em segredo de justiça, não foi informado nem o local, nem o horário da oitiva. A imprensa também não poderá ter acesso ao depoimento da magistrada.
Ao todo 90 testemunhas, entre defesa e acusação figuram no processo. Até agora 15 testemunhas foram ouvidas. A Justiça deve determinar hoje, após a oitiva da magistrada, a data do início dos depoimentos das testemunhas de defesa. Cada acusado tem direito a oito testemunhas.
Figuram no processo como acusados 12 policiais civis que já foram ouvidos pelo magistrado. O magistrado aguarda o retorno da carta precatória encaminhada ao Judiciário do Distrito Federal, com o depoimento da vítima.
NOTA DO BLOG:
Quando vejo essas notícias, lembro de uma frase célebre do folclore jornalístico: Good news is no news (notícia boa não é notícia). Como jornalista digo, em mea culpa, que isso tem um fundo de verdade. Mas a desgraça só vende porque tem quem a compre. É um círculo vicioso. Eu conto dramas, você compra o jornal, eu conto dramas...Quando posso, tento puxar uma brasa pra nossa sardinha. Uma vez, liguei para uma amiga minha, que ocupava um cargo de comando na área de jornalismo de uma importante emissora de Belém ( convém não mencionar), perguntando qual seria a possibilidade de uma equipe da tal TV vir fazer uma matéria sobre o círio de Conceição. Não dava naquele momento, foi a resposta. Insisti e consegui a exibição de uma nota coberta (ou seja, o apresentador do telejornal leu um texto elaborado por mim enquanto passavam imagens feitas pela nossa equipe aqui de Abaetetuba). A nossa maior festa religiosa só foi mostrada porque, na época, houve o famoso quebra-quebra, quando foram destruídas a prefeitura, a casa do prefeito... A TV achou que era uma boa cobrir o círio como emblema de uma cidade que se recuperava da violência através da fé.
Em outro momento, eu e o Márcio Negrão fomos a Belém ao encontro de um amigo meu dos tempos de universidade, o Mauro Netto (que até hoje é chefe de reportagem -ou de redação, sei lá- de O Liberal). Conseguimos, a custo zero, a cobertura da Folia de Reis em página inteira do cadernoMagazine. Falo essas coisas pela primeira vez publicamente para repor a verdade em seus devidos termos e para mostrar que é possível demonstrar o amor pela terra natal, sem pirotecnias, exibicionismos, nem interesses outros que não seja mostrar que Abaetetuba não é só o que (mal) dizem dela.
O belo hino de Abaetetuba que poucos Abaetetubenses conhecem e cantam encerra-se com os seguintes versos:
ResponderExcluir"Como filhos, de ti nos orgulharemos,
Pois, além de aconchego maternal,
És também o Brasil que nós amamos.
A nós serás sempre querida
E protegida por nós serás."
Não sei ao certo em que momento nossa querida Abaetetuba deixou de ser a terra prometida em que em nenhum outro lugar do Pará representava o refrão da conhecida música que dizia: "chegou ao Pará, parou! Bebeu açaí ficou!"
Já comentei anteriormente que com grande tristeza, sinto saudades do tempo em que podíamos e caminhávamos tranquilos pelas ruas à noite. Em que éramos a terra das bicicletas, o ar era mais puro e ainda não existiam tantos roubos. Em determinado momento que ignoro, começou a crescer o número de roubos de bicicletas... os proprietários compraram cadeados. Na região das ilhas, dormia-se com as janelas abertas, ao sabor da carícia da brisa amazônica... começou a pirataria e os ribeirinhos trancaram suas janelas e compraram cadeados para seus motores. Mais recentemente nossa cidade vem se transformando na terra da motocicleta... e os roubos e assaltos a motos também vem crescendo de forma assustadora e os proprietários compram cadeados para prender suas motos.
Como sabemos, em nenhum dos casos acima os cadeados resolveram. A pergunta é por que não resolveram? A resposta é simples, estávamos sempre prendendo a vítima.
O caso da adolescente que ganhou repercussão nacional é mais um ato que cito nesse prosaico comentário e que demonstra nossa incapacidade de combater as causas de nossas chagas sociais. Também foi mais um exemplo em que, não sabendo (ou não querendo) o que fazer, trancafiamos.
É preciso em algum momento, sob a inspiração de nosso hino, tentar resgatar o sentimento de amor por esta “pátria” maratauíra que, sinceramente, acredito que existem muito mais pessoas que a amam do que as que querem mal.