Por Naldo Araújo
Em meio a tantas turbulências, vamos falar um pouco de poesia. Da poesia que é viver em Abaeté. Sem demagogias. "Buscai e encontrai", ensinou-me minha esposa Edilma, citando um trecho bíblico. E fui buscar a ternura de minha cidade. E encontrei motivos apenas com um olhar diferente, mais condescendente com o nosso cantinho de vida. E resolvi estender o convite a todos vocês, leitores, para o exercício do "olhar com ternura", que nos desviará, nem que seja por um instante, daquele olhar que só vê a pirataria, as drogas, a violência e tantos outros males sociais grassando por toda parte. Não pediria nunca que esquecessem, por completo, as nossas mazelas sociais. A intenção é outra. É momentânea. E vital.
Agora, não. Deixemos, apenas, que a inspiração flua desse clima gostoso que começa a instalar-se por toda parte. As chuvas de nosso inverno paraense ficarão encarregadas de dar à cidade um aspecto de paz e tranquilidade. Os dias amanhecerão mais preguiçosos. Nuvens de cupins fluturão por entre as garoas das manhãs cinzentas. As sombrinhas e os guarda-chuvas seguirão os passos apressados para a beira, incensada pelos cheiros das nossas frutas regionais. Mesmo entre a poluição sonora, será possível ouvir, de tão intenso, o som das sandálias percorrendo as ruas encharcadas. Passageiros desavisados de bicicletas sem paralamas, passarão nas garupas com as costas das camisas com respingos de lama. As marquises servirão de abrigo para os que foram apanhados de surpresa. Alguns preferem enfrentar a "chuva branca", que parece interminável. "Quem vai pra casa, não se molha", diz o dito popular. A água desaba do céu não sem antes anunciar-se com aquele "cheiro de chuva". E vai embora, sempre deixando no ar a essência da terra molhada.
Sintamos, pois, todas as nuances da época. O clima de festa e congraçamento a anunciar que o círio da padroeira está próximo. Logo, os dias de friozinho ganharão a companhia dos aromas que vêm das cozinhas. Agora, é tempo de sentir a maniçoba, o pato-no-tucupi, seguindo o que parece ser a receita-padrão das festas religiosas paraenses. Depois, virão o perfume das frutas natalinas. Aqui, lembro que a natureza é sábia. As chuvas se intensificam nessa época do ano e nos deixam mais no aconchego do lar. Ao lado dos nossos. A partir de hoje, todos os dias serão de felicidade. Por quê?
"Buscai e encontrai".
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ResponderExcluirDe: Edilma Neves
ResponderExcluirNaldo, o versículo que citas é de Lucas 11:9. "Buscai e achareis".Esta passagem nos faz refletir: a quem buscamos em nossas orações?O que buscamos? Muitos buscam alguém que lhes seja tangível e visível. Por isso existe uma variedade de grandes ídolos, algo material de que se pode sacrificar ou beijar ou entregar presentes. Outros buscam os grandes filósofos, esperando aprender com eles os mistérios da vida. AQUELE que conhece o nosso íntimo, sabe das nossas fraquezas,nos ajuda sempre. Então, escolheríamos outra mediação quando oramos? O que buscamos?Algo efêmero e perecível?Ou os dons espirituais que nos ajudarão a ser melhores? "Buscai e encontrai", neste texto, Naldo, quer nos revelar que podemos e devemos buscar nas coisas mais singelas, a presença de Deus.Que na correria estressante do dia-a-dia, a paz deve ser buscada, basta um olhar mais atento e disposição.
Abraços,
Edilma Neves