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sábado, 17 de janeiro de 2009

MEMÓRIAS DA IMPRENSA EM ABAETETUBA

DE ACHINCALHES, PROVOCAÇÕES E ATÉ DUELOS NAS PÁGINAS DE JORNAL

Por Naldo Araújo

Que ninguém duvidasse da inimizade figadal entre aqueles dois senhores poderosos. Nem ousasse meter a colher em tal imbróglio. "Eram como cão e gato", definiu o ex-prefeito João Reis, hoje octogenário, mas que se lembra bem daquelas disputas ferrenhas nos idos na década de 20. De um lado, Garibaldi Parente, rico comerciante, dono de metade de Abaeté naqueles tempos. De outro lado, Aristides Reis e Silva, de grande influência política, deputado estadual e também dono de terras. Dinheiro só não bastava. Era preciso ter poder e influência. Foi aí que os "coronéis" resolveram partir para o embate político. Cada um com uma estratégia. Ambos, com a mesma arma: a imprensa.
Garibaldi lançou a ofensiva não com um, mas com vários jornais ao longo de mais de duas décadas: Correio de Abaeté, O Colibri, O Cruzeiro e A Folha do Matto. Aristides contra-atacou com O Commercio, O Município de Abaeté e o Guia do Povo. Garibaldi e Aristides chegaram a ser intendentes (prefeito na época). Nas páginas dos jornais, enquanto o primeiro chamava Arisitides de " bodinho", numa controversa e polêmica alusão ao gosto do "coronel" por meninas novinhas, este retrucava o apelidando de "italiano", lembrando que Garibaldi era gaúcho de nascimento, com ascendência européia. Em uma de suas edições em 1925, O Colibri conta o episódio de um homem que foi ao armazém de um tal coronel e perguntou pelo "seu" Virgilino. O tal ficou furioso com o tratamento informal e exigiu que o outro o chamasse respeitosamente de "coronel". Ao que o assustado perguntador retrucou: "Perdão, coronel, eu só conheço o touro pelos chifres!!!". Aliás, esse tipo de provocação era constante na imprensa daquela época. Houve até um caso de um duelo marcado pelas páginas de jornal. Ao sentir-se injuriado por um artigo escrito por um cidadão abaeteense contra a sua pessoal em um jornal da capital, o prefeito de polícia (delegado), tenente-coronel Eugênio Tavares o desafiou para um "encontro". E disparou: "Se marcar o logar (sic) do encontro e não comparecer à hora aprazada, considero-o um covarde".
Aristides era correligionário político do então todo poderoso Governador Magalhães Barata. Garibaldi, ao contrário, era líder da oposição ao governo em Abaeté. O "italiano" chegou a ser preso pelas tropas de Barata. O caudilho não poupou nem a tipografia, de onde saiam os jornais do oponente. Aristides, então deputado e fiel baratista, não concordou com uma indicação política do governador para as eleições daquele ano de 1934. Essa relação de amor e ódio a Barata acabou, ironicamente, por aproximar os dois rivais. Naquele pleito, Arisitides acaba filiando-se ao partido comandado por Garibaldi. O "bodinho" e o "italiano", vejam só, passariam a defender os mesmos interesses. Ontem como hoje, a conveniência política prevaleceu. Em Abaeté, a história atravessa as décadas e se repete com outros personagens. Aliados políticos, sim. Amigos, não necessariamente

2 comentários:

  1. Lendo esta crônica gostaria de dizer que esse fato ocorreu "apenas" na década de 20 e que hoje, graças a civilidade e a evolução dos códigos de ética dos "profissionais", nossa imprensa não mais é usada como instrumento de terrorismo ou promoção político partidária. Infelizmente, o espaço de informação e formação que os meios de comunicação deveriam servir são ocupados por autopromoção ou promoção financiada. Conta-se nos dedos de uma mão os verdadeiros profissionais que são comprometidos com a verdade, sem sensacionalismos e com a construção de uma sociedade verdadeiramente esclarecida.

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  2. Um verdadeiro relato de nossa história. Parabéns pela matéria.

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