A COBERTURA DO CÍRIO
Imagem: Tarso Sarraf Sou um fã incondicional do Círio de Nazaré, em Belém. Nesta condição, aliada à paixão natural pela comunicação, procuro observar como se comportam os veículos que cobrem essa gigantesca manifestação de fé. Nada científico ou rigoroso. Apenas curiosidade.
Assim como nos últimos cinco anos, ou mais ou menos por aí, acompanhei tudo, aqui em Abaetetuba, pela TV e pelo rádio. Deixei a internet para me inteirar da repercussão da procissão no Brasil e no mundo.
Na TV Liberal, assisti à entrevista com o Desidério Neto, presidente da Associação dos Artesãos de Miriti de Abaetetuba. Quer dizer, o que presumi que seria uma entrevista, já que os apresentadores Layse Santos e André Laurent não deixaram o entrevistado completar suas observações. O comentarista João Carlos Pereira ajudou a enterrar a "entrevista". Excesso de intervenções. Troquei de canal.
No SBT, Úrsula Vidal e Edson Matoso foram mais concisos, apesar do cenário denotar uma certa apatia visual. A ideia de colocar artesãos abaetetubenses, como o conhecido Diabinho, produzindo "ao vivo" foi um toque de novidade num evento que, de tão previsível, tem de ter sua transmissão reinventada todos os anos.
Passei pela Record a tempo de ouvir só um pedaço do "rererererê", do Pica-Pau do desenho animado (que brigava com o Zeca Urubu bem na hora que os devotos sofriam sob o sol inclemente) e passeei pela TV Cultura, com suas imagens que, como sempre, mais parecem geradas pelos transmissores da extinta TV Marajoara, lá nos anos 70.
Não tive como acompanhar a transmissão da RBA (o sinal da repetidora em Abaetetuba é péssimo). Então, voltei para a TV Liberal. Lá, nem tudo estava perdido, apesar do Igor Fonseca ser chamado ao vivo e mostrar pontos de Belém, lá do Libcop. Detalhe: quase do outro lado da cidade... (Aliás, que bom seria se o Libcop fosse mais do que um sinal de status para a TV LIberal)
Minha emoção nas transmissões do Círio veio de um fato inusitado: ao narrar a chegada da imagem ao CAN, a repórter Elisângela Andrade foi se emocionando, foi se emocionando, foi ficando repetitiva no "que emoção, que emoção, que emoção..." e aí, nitidamente engolindo o choro, produziu um dos mais autênticos e tocantes instantes da história das coberturas da maior procissão religiosa do Brasil.
Ao sair de casa por alguns instantes (fui comprar o açaí do almoço do círio porque, mesmo estando em Abaeté, a gente reúne a família, saboreia o pato no tucupi...), liguei o rádio na CBN (a rádio que toca notícia). No ar, o âncora Clayton César chamava um repórter daqui, outro dali e aí, foi a vez de convocar o Celso Freire (com quem, aliás, trabalhei na Rádio Cultura).
Tentando ser simpático, o Celso, reportando o instante em que os fieis começavam a cortar e guardar pedaços da corda do círio, disse que tentaria pegar e guardar um pedaço do souvenir, "Como você pediu, Clayton". Ao que, surpreendemente, Clayton respondeu, meio ríspido: "Pra mim, não. Pedi pra colocar aqui na porta do estúdio". E completou: "não quero corda, quero saúde e paz". Será que eu tinha ouvido isso mesmo? Atitude estranha, né, não?
No outro dia, novamente sintonizado na CBN, acompanhei um debate sobre o Círio. Tudo muito insosso, até que o Celso Freire foi chamado a participar e tocou no assunto do tal pedaço de corda, "encarnando" que ela seria entregue ao paulista Clayton.
O âncora, então, disparou: "Não sou católico e não acho que um pedaço de corda vá resolver muita coisa". Pronto, disse tudo. Tudo bem que se coloque pessoas de outros credos para comandar a transmissão do Círio. Mas desde que isso seja feito com isenção, equilíbrio e muito, muito profissionalismo. O que não foi o caso dessa vez.
Emannuel Vilaça que o diga...