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sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

CARTA AOS CONTERRÂNEOS DISTANTES


Caros amigos e amigas,


A vocês , que são abaeteuaras da gema ou adotivos, e que, por algum motivo da vida encontram-se distantes da terrinha, escrevo-lhes para contar como estão as coisas por aqui.

Como vocês bem sabem, terminaram as festividades de Nossa Senhora da Conceição, quando a cidade recebeu milhares de visitantes. O círio foi uma bonita manifestação, reunindo milhares de pessoas. Na praça da Matriz, dava gosto de ver todo aquele povo divertindo-se nos bares e no arraial, durante os dez dias de festa. Isso não mudou muito, não. Até hoje não sei como aquele espaço tão pequeno comporta aquele mundaréu de gente. Pouca coisa mudou, como disse. A não ser o fato de que hoje não dá pra voltar pra casa a pé e sozinho, de jeito nenhum. É quase certo que, se tentar fazer isso, você será "aparado" na primeira esquina. Vocês devem ter guardadinhos aí na memória esses instantes em que amigos confraternizam-se, famílias inteiras passeiam pelas barracas, levam os filhos nos brinquedos do parque de diversão. Muitos, como os caboclos ribeirinhos, economizam praticamente o ano todo para vir usufruir o suado dinheirinho bem no dia 8 de dezembro. Então, o cais fica abarrotado de embarcações de todo porte. É rabeta, é montaria, é batelão. Mas, isso é claro que vocês sabem. Só não sei se vocês recordam dos tempos em que nesse dia da festa da padroeira era imperativo comprar roupa nova pra toda a família? Todo mundo garbosamente vestido. Pra ver e ser visto. Não pensem que isso é do tempo do ronca, não! Eu mesmo me peguei botando uma camisa novinha para sair na noite da festa. É coisa de origem! Ainda sou do tempo em que o pessoal do Taça de Prata arrematava tudo no leilão da Barraca da Santa. Mas, essa é outra história.

Pois bem, aqui a vida corre normal. Pra quem foi embora faz tempo, convém lembrar que a cidade cresceu à beça. Tem até um portal, que eu não sei muito bem pra que serve. Mas é bacana aquele troço ali, dando as boas-vindas aos visitantes, logo na entrada de Abaetetuba. Sabem o centro comercial? Olha, a avenida principal, a D. Pedro II, já tem bem poucas residências. Foi-se o tempo em que por ali moravam o Raimundo Piraíba, o Rosildo, o Mestre Caetano. Agora, de ponta a ponta, é comércio pra todo lado. E não é loja pequena, não. Prédios de três, quatro, cinco andares. Redes de lojas de grande porte numa concorrência feroz com as empresas geridas pela terceira geração de famílias abaetetubenses que cresceram no comércio.

Sabe aquele tempo em que nas ruas tranquilas se viam poucos carros, muitas bicicletas e algumas carroças? Os carros, as bicicletas, as carroças ainda compõem a paisagem urbana. Só que, agora, disputam espaço com centenas e mais centenas de mototáxis. Quem imaginava que teríamos engarrafamentos no centro da cidade? Um dia desses, esperei longos minutos até abrir o sinal da esquina da Barão com a D. Pedro II. Era o último da fila. Fiquei parado lá perto do muro do antigo SESP (lá agora funciona uma unidade de saúde 24 horas). E, confesso, com uma pontinha de orgulho. "Até parece que tô na capital", pensei cá com meus botões. É preciso ter instantes de otimismo diante da baldúrdia inevitável. Quando pensar em vir de carro, convém alertá-lo para algumas "regras básicas" para não estragar seu dia no trânsito:

1-Chegue cedo às compras ou ao passeio;

2-Recorra aos estacionamentos pagos;

3-Peça ajuda aos flanelinhas. E olhe que, onde você imaginar, tem sempre um à sua espreita.

Eis, parceiros, a triste conclusão: as ruas não mais nos pertencem.

Mudando um pouco de assunto. Não sei se vocês sabem, mas a praia de Beja ganhou uma orla novinha. Um calçadão que tinha tudo pra ser a moldura perfeita da nossa famosa vila-balneário. Pena que está tudo indo por água abaixo. E olha que a obra foi entregue no início deste ano. No mais, é curtir a praia antes que ela acabe. Literalmente. Isso porque há a constatação de que as praias do Baixo Tocantins estão sumindo, ameaçadas pelas chamadas águas do litoral, que avançam um metro a cada ano. Então, na sua próxima passagem por aqui, corre lá pro Beija e curta um peixe frito com cerveja geladinha. Seus netos vão gostar de ouvir essas histórias de uma praia belíssima que existia aqui bem perto de nós. Acho que estou enchendo vocês com essa conversa. Vá lá, devo estar exagerando. Isso ainda deve durar umas duas ou três décadas. Ou nem acontecer. Só que tenho de manter todos vocês muito bem atualizados.


Ainda tenho muita coisa pra lhes contar.


Por enquanto, é só.


Abraços,


Do irmão abaeteuara


Naldo
P.S. Desculpem se houver erros aqui na cartinha. É que eu tô de férias...
...E com preguiça de escrever e revisar.

Um comentário:

  1. Lendo o texto,me senti participando da história..Confesso que senti uma pontadinha d inveja(boa,é claro!)por não ter feito parte desse tempo em Abaetetuba.
    Não renegando minha terra natal,mas amo essa cidade e me sinto bem vinda e calorosamente acolhida..

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