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quinta-feira, 29 de julho de 2010

O BLOG É DO LEITOR


Recebo e publico esta crônica de amor pelas origens. Quem nos brinda com esse texto é o Varley Farias, lá de Fortaleza, Ceará.



Amigo Naldo,

Nasci numa cidade chamada Crateús, interior do Ceará, localizada no Sertão dos Inhamuns, 46 anos atrás, onde passei minha meninice brincando nas ruas, tomando banho de rio, convivendo com a paz que toda cidade do interior tinha. Lembro que, naquelas ruas, a única violência que se via, era o correr desenfreado da cachorrada quando algum gato mais atrevido ou desavisado invadia o território dos cães. E a meninada se divertia vendo aquele corre-corre. Naquele tempo os cães não se davam com os gatos. Afora essa “violência” animal, nessa época não se ouvia falar em qualquer outra.

As calçadas estavam sempre apinhadas de famílias jogando conversa fora até altas horas das noites, e naquelas ruas a meninada crescia lentamente. Lembro que depois de exaustos das brincadeiras, nossa mãe nos mandava tomar banho se aquietar e esperar o sono chegar. E lá íamos cumprir a determinação. Banhados, livres da poeira de um dia de muito suor e diversão, voltávamos à calçada, sentávamos no colo dela e recebíamos dela e da noite os carinhos que nos amoleciam o corpo e alma, e em poucos minutos éramos levados pelo sono, bem ali mesmo na calçada nos braços da nossa mãe, adormecíamos.

Hoje, vivo numa metrópole que se comparada a Crateús - que cresce com preguiça - com seus quase dois milhões de habitantes Fortaleza é uma metrópole gigantesca. Aqui, na terra da luz – como é conhecida Fortaleza – durante o dia os automóveis mandam também nas calçadas e durante as noites nas calçadas vazias, só se nota a presença dos muros altos enfeitados com cercas eletrificadas, vidros ou pontiagudos grampos enferrujados. Enfeites do medo. Muros que dão a falsa impressão de protegerem a infância desses dias tão violentos.

Os gatos já não temem os cães como outrora, é comum vê-los dormindo lado a lado e até comendo no mesmo prato um do outro. Hoje, o cidadão de bem é que tenta fugir e se proteger dos “cães” das ruas, querendo se esquivar da violência que as drogas e os outros vícios trazem.

Vez por outra tenho notícias da minha Crateús, e elas me são tão preocupantes com relação à violência, como as notícias do cotidiano na metrópole despojada pelo sol.

É, amigo, você tem razão no seu texto acima, a violência virou rotina de fato. Instalou-se no nosso dia a dia como praga abominável, e o terrorismo das ruas vai fazendo vítimas e mais vítimas, que muitas vezes sequer chegam a ter infância, e quando não somos surpreendidos por ela nas esquinas, nos sinais, na fila de um banco, ela vem a nossa procura, seqüestrar a paz do nosso lar.

Sinto muito por sua bela Abaetetuba ser também vítima dessa violência “globalizada”.

Tenho muita saudade do tempo em que os gatos temiam os cães.

Um comentário:

  1. Márcio S.S
    Oi Naldo, tudo bem gostei muito do seu blog, que relata fatos e mostra um pouco do que rola em Abaeté.Pesquisando descobrir outro blog de Abaetetuba >http://ademirhelenorocha.blogspot.com
    Muito interessante esse blog.
    Parabéns por mostrarem que Abaetetuba tem muita coisa boa.

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