Gabriel Moraes, filho do grande amigo Zacarias de Moraes e sobrinho de meu estimado Manoel de Jesus, escreve agradecendo a uma menção que fiz do papel desses dois grandes profissionais na minha formação. É verdade, Gabriel. Quando ainda era bem novinho (bote tempo nisso!), costumava ouvir os programas do Zaca e do Manoel nos sonoros Copacabana. Morava nessa época lá na avenida D. Pedro II, bem no centro comercial de Abaetetuba. Fui, portanto, vizinho de longa data daquele importante serviço de publicidade. Cresci, literalmente, ouvindo todos os dias aquela trilha de abertura da programação, que até hoje, aliás, é mantida.
Lembro bem que, em uma certa época, passei a estudar à noite na escola Pedro Teixeira. Sem nenhum tipo de condução (e condição) ia caminhando de casa até o bairro do Algodoal. Ia tranquilo (hoje é impossível fazer isso) caminhando no finzinho do dia. Eu, o crepúsculo e, em boa parte do caminho, aquela vinhetinha de despedida do Copacabana, que até hoje não me sai da cabeça, embora só lembre de alguns trechos: "É mais um dia que se foi, é mais uma noite que chega envolvendo-nos com seu manto negro...". Já citei isso aqui em uma crônica, mas nunca deixo de lembrar que aquela era a deixa para a cidade, lá pelos anos 70, 80, cair no silêncio. Sem rádios ou TVs locais, era o Copacabana quem ditava o ritmo do tempo. Quando passei a estudar pela manhã, já no INSA, a mesma coisa: "Meu filho, acorda, o Copacabana já até entrou no ar...". Quando os raios luminosos invadem o horizonte, espalha-se mais um som...
Como disse anteriormente, o Copacabana era o mais importante veículo de comunicação de Abaetetuba. A primeira coisa que um político importante fazia ao chegar por aqui era, por recomendação dos assessores, subir as escadas do prédio Lucídio Paes, bem no coração da cidade. Lá, no segundo andar, o estúdio estava todo pronto para receber o ilustre visitante. Depois, era só descer e seguir pelas ruas do comércio sempre movimentado, ouvindo a repercussão daquela entrevista. Aconteceu algo importante, perdeu documentos, quer mandar uma mensagem de aniversário? Corre lá para o Copacabana. E lá se vão, creio eu, mais de quarenta anos de serviços prestados à comunidade. Desde os tempos do Bandute Sena (isso já não é da minha época), desde os tempos em que a empresa de som e publicidade irradiava sua programação através de alto-falantes, postados em direções opostas, bem na esquina da avenida principal com a Justo Chermont. Era o suficiente para ser ouvida, numa época em que não havia a desgraçada poluição sonora de hoje. As ondas sonoras viajavam, tranquilas, tendo como únicos rivais o barulho dos pô-pô-pôs que atracavam e desatracavam na orla e dos carregadores, que abriam caminho no grito. "Ti-ti-ti-ti abram caminho que eu quero passar", nos gestos que seriam eternizados nos versos do Pinduca. "Sou carregador da beira, meu carrinho é de mão..."
Assim, todos cumpriam seus afazeres, em casa ou no trabalho, com o som onipresente do Copacabana. Era tão comum que até nem percebíamos que passávamos o dia escutando aquelas músicas e aquelas informações. Mas, quando aquela musiquinha do Copacabana ecoava fora do horário habitual, em edição extraordinária, todos corriam para as esquinas, para baixo de uma das caixinhas de som. Era notícia quente, com certeza. Ou então... AAAAveeeee-Mariiiiiiaaaaaa. Silêncio. Em voz dramática, o locutor anunciava: " A família daquele que em vida se chamou (fulano de tal) cumpre o doloroso dever de comunicar a seus parentes e amigos o seu brusco falecimento...".
E assim , meu caro Gabriel, fui ouvindo, fui gostando, fui em frente. Nem vou lhe contar ( e isso, fora minha família, só minha esposa Edilma sabe) que costumava enervar minha Tia Mundica ao tentar reproduzir em casa a estrutura do Copacabana. E assim, com alto-falantes extraídos de velhos radinhos e vitrolas (e de aparelhos novos também) consegui, um dia, estender fios do nosso quarto até a cozinha. No "estúdio central" ligava uma vitrolinha, colocava uns discos do Roberto Carlos e pronto. Invadia a casa toda com aquele som de péssima qualidade. Mas, e daí? O importante era que o "meu" sistema de som e publicidade estava no ar. Foi o início de tudo. Estava definitivamente apaixonado pela comunicação. Um amor que não tem cura, que não tem preço... que não tem fim.
Grande parte dos comunicadores de Abaetetuba começou sua vida profissional no Copacabana, por lá passaram: Roque Dias, Nildo Silva, Albertino Lobato, Norberto Margalho, Chico Layser, Aristides Favacho, Rangel Gonçalves, Daniel Bonner... ( a lista é muito mais extensa). Na verdade fica mais fácil procurar na cidade quais foram os profissionais de comunicação que não passaram pelo Copacabana.
ResponderExcluirnotícia dada no copacabana é sinônimo de verdade.é por isso que quando as pessoas são indagadas sobre a veracidade das notícias elas dizem "deu no copacabana"
ResponderExcluirque bom saber que em abaetetuba ainda tem pessoas comprometidas com a verdade.